
O fungo Batrachochytrium dendrobatidis, causador da quitridiomicose, tem sido associado à extinção e ao declínio de espécies de anfíbios em várias regiões do mundo. Um grupo de investigação da Nova Zelândia declarou ontem ter encontrado uma possível cura para a doença, o cloramfenicol, um antibiótico de largo espectro hoje em dia utilizado apenas para tratar conjuntivites bacterianas.
Os cientistas decidiram publicitar a sua descoberta mesmo antes da publicação da mesma numa revista científica, dada a gravidade da situação que levou o presidente da Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA) a compará-la à «extinção que dizimou os dinossauros do planeta».
Os cientistas banharam exemplares de duas espécies, Litoria ewingii e L. raniformis, numa solução do antibiótico e verificaram que não só os conseguiam curar completamente da quitrídia como o tratamento os tornava resistentes a novas infecções.
«Normalmente não esperamos que os antibióticos façam alguma coisa aos fungos. Mas fazem. Não percebemos porque razão o fazem, mas o que é certo é que isso acontece», comentou Russell Poulter, um dos cientistas que colaborou no projecto. Acrescentando que «tem a vantagem de ser incrivelmente barato».
Embora seja de facto barato, parece pouco provável que o tratamento agora descoberto possa ser utilizado fora de instalações veterinárias ou de investigação. De facto, o cloroanfenicol é uma substância completamente banida em todas as circunstâncias que possam resultar na sua ingestão pelo homem já que causa anemia aplástica, uma doença caracterizada por pancitopenia (déficite de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas).Por outro lado, Ana Carolina Carnaval, do Museu de Zoologia de Vertebrados da UCBerkeley e co-autora de um artigo sobre a rã-de-corredeira, Hylodes magalhaesi -uma espécie cujo habitat é a mata atlântica brasileira -, acredita que o fungo não é por si só responsável pelas extinções e declínio de populações observadas. De acordo com a cientista (artigo em formato pdf na revista Amphibian and Reptile Conservation), foi detectada quitridiomicose em populações que não estão em declínio, pelo que pensa tratar-se de um caso de sinergia entre a micose e outros factores, nomeadamente aumento de poluição, alterações climáticas, perda de habitat e demais alterações ambientais, opinião partilhada por outros herpetólogos.
O desaparecimento de anfíbios foi discutido pela primeira vez há quase 20 anos,no I Congresso Mundial de Herpetologia, realizado em Inglaterra, em 1989. Foram estabelecidas várias iniciativas que visam perceber as causas e dimensão desta catástrofe, como, por exemplo, a Avaliação Global de Anfíbios (GAA) ou a Rede de Análise de Anfíbios Neotropicais Ameaçados (Rana). Desde então, dezenas de espécies desapareceram e muitas mais encontram-se à beira da extinção (relatório de 2005 em formato pdf). A destruição de habitats é certamente uma causa não despicienda. Por esse motivo, mais que antibióticos, para salvar os anfíbios urge conservar esses habitats, principalmente os locais de reprodução.
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