sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Charentes há 95 milhões de anos


Realiza-se hoje uma conferência no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, com o título «A região de Charentes (SW de França), 95 milhões de anos atrás: Floras, Faunas e Ambientes excepcionais».Romain Vullo, do Laboratoire de Paléontologie, Géosciences, Université de Rennes/ Unidad de Paleontología, Departamento de Biología, Facultad de Ciencias, Universidad Autónoma de Madrid, que vem a Portugal fazer trabalho de campo sobre o Cenomaniano da região de Lisboa, falará sobre os fósseis, tanto de plantas como de animais, que foram identificados nas jazidas da região de Charentes, bem como sobre os paleoambientes que se desenvolveram ao longo desta série transgressiva cretácica.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Como já referi num post anterior, 2008 será o Ano Internacional da Rã, uma medida que visa alertar para a necessidade de medidas que evitem a extinção dos anfíbios, dos quais cerca de um terço das espécies conhecidas estava ameaçado em 2006.
O fungo Batrachochytrium dendrobatidis, causador da quitridiomicose, tem sido associado à extinção e ao declínio de espécies de anfíbios em várias regiões do mundo. Um grupo de investigação da Nova Zelândia declarou ontem ter encontrado uma possível cura para a doença, o cloramfenicol, um antibiótico de largo espectro hoje em dia utilizado apenas para tratar conjuntivites bacterianas.

Os cientistas decidiram publicitar a sua descoberta mesmo antes da publicação da mesma numa revista científica, dada a gravidade da situação que levou o presidente da Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA) a compará-la à «extinção que dizimou os dinossauros do planeta».

Os cientistas banharam exemplares de duas espécies, Litoria ewingii e L. raniformis, numa solução do antibiótico e verificaram que não só os conseguiam curar completamente da quitrídia como o tratamento os tornava resistentes a novas infecções.

«Normalmente não esperamos que os antibióticos façam alguma coisa aos fungos. Mas fazem. Não percebemos porque razão o fazem, mas o que é certo é que isso acontece», comentou Russell Poulter, um dos cientistas que colaborou no projecto. Acrescentando que «tem a vantagem de ser incrivelmente barato».

Embora seja de facto barato, parece pouco provável que o tratamento agora descoberto possa ser utilizado fora de instalações veterinárias ou de investigação. De facto, o cloroanfenicol é uma substância completamente banida em todas as circunstâncias que possam resultar na sua ingestão pelo homem já que causa anemia aplástica, uma doença caracterizada por pancitopenia (déficite de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas).Por outro lado, Ana Carolina Carnaval, do Museu de Zoologia de Vertebrados da UCBerkeley e co-autora de um artigo sobre a rã-de-corredeira, Hylodes magalhaesi -uma espécie cujo habitat é a mata atlântica brasileira -, acredita que o fungo não é por si só responsável pelas extinções e declínio de populações observadas. De acordo com a cientista (artigo em formato pdf na revista Amphibian and Reptile Conservation), foi detectada quitridiomicose em populações que não estão em declínio, pelo que pensa tratar-se de um caso de sinergia entre a micose e outros factores, nomeadamente aumento de poluição, alterações climáticas, perda de habitat e demais alterações ambientais, opinião partilhada por outros herpetólogos.

O desaparecimento de anfíbios foi discutido pela primeira vez há quase 20 anos,no I Congresso Mundial de Herpetologia, realizado em Inglaterra, em 1989. Foram estabelecidas várias iniciativas que visam perceber as causas e dimensão desta catástrofe, como, por exemplo, a Avaliação Global de Anfíbios (GAA) ou a Rede de Análise de Anfíbios Neotropicais Ameaçados (Rana). Desde então, dezenas de espécies desapareceram e muitas mais encontram-se à beira da extinção (relatório de 2005 em formato pdf). A destruição de habitats é certamente uma causa não despicienda. Por esse motivo, mais que antibióticos, para salvar os anfíbios urge conservar esses habitats, principalmente os locais de reprodução.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007


A edição de ontem da revista Nature é acompanhada por uma notícia intitulada «Greenhouse-gas levels accelerating», que dá conta de uma aceleração no ritmo de emissão de CO2 para a atmosfera. Enquanto na década de 90 se verificou uma aumento anual das emissões de cerca de 1.3%, o boom económico do século XXI - especialmente na China e na Índia - foi acompanhado por um boom equivalente nas emissões de gases de efeito de estufa, cerca de 3.3% ao ano a partir de 2000.

Pep Canadell, que lidera o Global Carbon Project e publicou um dos estudos analisados nesta notícia, sugere ainda que os tanques de carbono da Terra, especialmente os oceânicos, já não funcionam tão eficientemente como em meados no século passado e por isso menos CO2 atmosférico é retirado do sistema:


«Há cinquenta anos, se emitissemos 1 tonelada de CO2, os tanques [como os oceanos] removiam 600 quilogramas. Agora removem 550 kg e esta quantidade está a diminuir».Outro dos artigos mencionados na notícia da Nature, publicado no Journal of Geophysical Research, reitera as afirmações de Canadell. Ute Schuster e Andrew Watson, da Universidade de East Anglia em Norwich, utilizaram dados recolhidos por instrumentos colocados em navios comerciais para concluir que em algumas zonas do Atlântico Norte a capacidade do oceano para remover CO2 diminuiu para menos de metade desde meados dos anos 90.

A descoberta dos dois cientistas surge apenas três meses após outra equipa ter descrito que o mesmo se passa no Oceano Polar Antártico. Esta diminuição drástica na capacidade de absorção de CO2 nos oceanos sugere que nem o tratamento de emergência prescrito por James Lovelock para a «patologia do aquecimento global» será suficiente para reduzir os níveis de CO2 na atmosfera terrestre.

domingo, 21 de outubro de 2007

Mais uma espécie descoberta!!!


Foi agora descrita uma nova espécie de ave - Formicivora grantsaui ou de nome comum a papa-formigas-do-Sincorá.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Europa precisa de mais cientistas

No próximo dia 29 de Outubro realizar-se-á no PAVILHÃO DO CONHECIMENTO - Ciência Viva um encontro em Espaço Aberto a que tenciono assistir e que recomendo vivamente aos nossos leitores. Este encontro, inserido no projecto Europeu GAPP (Gender Awareness Participation Process), tem como objectivo responder à questão: «Que acções se podem concretizar para atrair jovens - particularmente raparigas – para estudos e carreiras cientificas e tecnológicas?»

Transcrevo a informação recebida:

«Para que em 2010 a Europa se torne na primeira economia baseada no conhecimento, necessita de mais 500 000 investigadores. Com o actual ritmo de crescimento de investigadores haverá diculdade em alcançar esta meta.

A proporção de mulheres investigadoras em Ciência e Tecnologia é preocupantemente baixa na Europa, atingindo uma média de cerca de 30%. Aumentar este valor é uma condição fundamental para atingir a nossa meta de investigadores. Portugal encontra-se numa situação excepcional - tem quase o mesmo número de homens e mulheres em investigação - mas em algumas áreas cientícas, como as Engenharias e Tecnologias, esta diferença ainda existe: apenas cerca de 30 % dos investigadores são mulheres.
Um encontro em Espaço Aberto é um evento muito diferente do habitual. Não se trata de uma palestra ou conferência mas de um encontro informal de diálogo, onde todos os participantes têm igual oportunidade para se expressar e encontrar, em conjunto, acções concretas que atraiam mais jovens para estudos e carreiras cientícas e tecnológicas.Todos os que se interessam por este tema estão convidados. Portugal e a Europa precisam da sua colaboração. Participe neste encontro em Espaço Aberto sobre estudos e carreiras em Ciência e Género».

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sabes o que é um relógio molecular? Lê o artigo!!!

( espirulina)

As cianobactérias, anteriormente conhecidas como algas azuis, são microrganismos procariontes (sem membrana nuclear) que vivem na Terra há pelo menos 3800 milhões de anos*, pensando-se que tenham sido os ancestrais de todas as formas de vida na Terra. Os eucariontes (com membrana nuclear) terão surgido entre 2000 a 1400 milhões de anos atrás e os organismos multicelulares terão feito a primeira aparição há cerca de 700 milhões de anos. Actualmente é aceite que alguns organelos - por exemplo, os cloroplastos e mitocôndrias - das células eucarióticas tiveram origem em procariontes que se adaptaram à vida intracelular por endossimbiose.
Os estromatólitos de Bitter Springs, na Austrália central, exibem fósseis muito bem conservados que mostraram pela primeira vez que há mais de 850 milhões de anos existiam cianobactérias morfologicamente modernas que partilhavam o habitat com outros seres capazes de fotossíntese, as algas verdes, eucariontes igualmente descobertos na mesma formação.A evolução da vida na Terra como a conhecemos foi muito provavelmente possível devido à acção destas bactérias que libertaram o oxigénio que alterou a composição da atmosfera primitiva e possibilitou a formação da camada de ozono (O3) que protegeu da radiação ultravioleta organismos mais sensíveis.Algumas cianobactérias, designadas extremófilas, conseguem viver em condições extremas como sejam fontes termais, com temperaturas de aproximadamente 74ºC, águas geladas ou meios de salinidade muito elevada.


Nas últimas décadas, os avanços da oceanografia permitiram a descoberta de inesperadas comunidades a profundezas superiores a 3000 metros, onde a luz do sol não penetra e a fotossíntese não é possível. Estes biossistemas são possíveis devido à existência de arqueobactérias associadas a fontes quentes vulcânicas que são capazes de quimiossíntese. Pensa-se que as primeiras biossínteses, efectuadas por um replicador primevo, tenham acontecido neste tipo de ambientes, muito comuns na Terra primitiva. É também possível, como o demonstram muitas experiências laboratoriais, que metais ou minerais, como a pirite ou a magnetite, tenham sido os catalisadores químicos das sínteses biológicas antes da evolução de enzimas.A química das cianobactérias, as nossas «fábricas» de oxigénio já que são responsáveis por cerca de 70% da fotossíntese realizada no planeta, tem sido investigada e explorada (nomeadamente para a produção de um combustível limpo do futuro, o hidrogénio) em inúmeros laboratórios, um pouco por todo o mundo.
Um aspecto desta química que tem despertado muito interesse tem a ver com o mais simples relógio molecular descoberto até hoje, constituído por apenas três proteínas, KaiA, KaiB, e KaiC. Estas três proteínas permitem às cianobactérias acertarem com uma precisão impressionante o seu ritmo circadiano. Os ciclos circadianos são os osciladores bioquímicos com período de 24 horas que tornam as viagens intercontinentais complicadas para as muitas pessoas que demoram semanas a ajustar os seus ritmos de sono ao novo fuso horário.Na Science da semana passada, cientistas de Harvard e do Howard Hughes Medical Institute descreveram em detalhe como este trio de proteinas colocado num tubo de ensaio com o combustível biológico ATP mantém um ritmo circadiano preciso por períodos longos de tempo.
Mesmo na ausência de estímulos externos, isto é, sem luz, este relógio molecular exibe uma grande precisão ao longo de várias semanas.As proteínas Kai não foram encontradas nos humanos mas a elucidação deste mecanismo pode lançar luz sobre os relógios biológicos de outras espécies. Antes de as cianobactérias nos terem surpreendido com esta reacção oscilante, de período bem determinado e independente da existência de ADN e outros componentes celulares, pensava-se que era necessário todo um organismo para manter o ritmo circadiano. Estes microorganismos mostraram-nos que é possível um relógio molecular mais preciso que o do meu computador apenas com três (macro)moléculas!*Mojzsis, S.J., Arrhenius, G., McKeegan, K.D., Harrison, T.M., Nutman, A.P. Friend, C.R.L. (1996) Evidence for life on Earth before 3,800 million years ago, Nature 384, (6604): 55-59.





















quarta-feira, 10 de outubro de 2007

2008- Ano internacional da Rã


A Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA) declarou 2008 como o Ano Internacional da Rã no 62.º congresso internacional que decorreu em finais de Agosto em Budapeste, Hungria. Um pouco antes, o 3º Congresso Brasileiro de Herpetologia, que decorreu em Belém do Pará, tinha chegado às mesmas conclusões da Waza que motivaram a declaração. De facto, há anos que a comunidade científica alerta para a necessidade da implementação de medidas urgentes para evitar a extinção dos anfíbios, dos quais cerca de um terço estava ameaçada em 2006. Gordon McGregor Reid, presidente da Waza, considera que esta situação «pode ser comparada à extinção que dizimou os dinossauros do planeta».A palavra «anfíbio» vem do grego amphíbios, «duas vidas» e refere espécies que apresentam na sua maioria ciclos de vida em duas fases, com uma forma aquática (em água doce) e uma forma que vive na terra. Apesar de de serem inofensivos para os seres humanos, todos os anfíbios possuem glândulas espalhadas na pele que podem produzir secreções tóxicas ou alucinogénicas - como é exemplo do sapo cururu -, que podem ter aplicações importantes em farmacologia.Os mitos e superstições que rodeiam estas espécies têm contribuído para o seu desaparecimento e para o facto de que pouco se fala na sua extinção e declínio - são francamente menos atraentes e «vendáveis» para o grande público que baleias, pandas ou linces. Embora o consumo humano (nalguns locais do Globo) de algumas «delícias» gastronómicas não contribua para a sua preservação - só em França, cerca de 80 milhões de rãs são servidas à mesa todos os anos - é a acção do homem no meio ambiente a principal culpada do declínio rápido nas populações de anfíbios nos últimos 20 anos.Dotados de uma pele permeável, os anfíbios são quasi indicadores da qualidade ambiental já que são muito sensíveis à poluição, do ar e da água. Para além disso, as populações de batráquios estão a ser ameaçadas por fungos com efeitos mortais, Batrachochytrium dendrobatidis, cuja proliferação se pensa estar relacionada com o aquecimento global. O Batrachochytrium dendrobatidis, que já foi detectado em todos os continentes, menos na Antárctida, foi responsável pela extinção nos últimos anos de 70 espécies de sapos da América Central e da região tropical da América do Sul e pelo declínio de pelo menos 93 espécies de anfíbios no mundo, 43 delas na América Latina.O último número da PNAS inclui um artigo, Aquatic eutrophication promotes pathogenic infection in amphibians, que explica como a eutrofização está a contribuir para o problema. O excesso de nutrientes que são despejados nos cursos de água doce - devido a descargas de efluentes agrícolas, urbanos ou industriais -, leva à proliferação excessiva de algas e dos caracóis (Planorbella tenuis) que delas se alimentam. Os caracóis por sua vez são hospedeiros de um parasita da classe Trematoda, Ribeiroia ondatrae. Tal como o parasita que causa a malária, os trematodes têm várias espécies como hospedeiros durante o seu ciclo de vida, e este em particular infecta sapos causando deformidades muitas vezes fatais. Estas deformidades são até benéficas para o parasita uma vez que tornam um sapo infectado (e deformado) uma presa mais fácil para pássaros, o hospedeiro final do Ribeiroia ondatrae.O estudo apresentado no PNAS sugere ainda que o mesmo mecanismo que está a contribuir para a extinção de anfíbios, pode ajudar a explicar a incidência crescente de parasitas com múltiplos vectores que afectam o homem, da cólera à malária passando pelo febre amarela e dengue. No caso destas últimas doenças, acresce ainda que os anfíbios ajudam a controlar as populações de insectos, nomeadamente dos mosquitos que são o vector que nos infecta. Com a diminuição drástica de anfíbios aumentam as populações de insectos transmissores de doenças e a probabilidade de infecção do Homem. Anualmente, só a malária mata cerca de 2 milhões de pessoas e afecta aproximadamente 500 milhões ...